O mercado de eventos, nacional e internacional, irá trabalhar de maneira diferente no mundo pós-Covid19
Em 11 de março de 2020 foi declarada, oficialmente, a pandemia da COVID-19 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A transmissão do vírus, que pode acontecer via contato direto com uma pessoa infectada ou por contato com superfícies contaminadas, limitou o contato social e, consequentemente, os eventos presenciais ao redor de todo o mundo. Entre os setores mais impactados por esta medida está o de eventos, que sofreu uma paralisação global de suas atividades.
Segundo o Instituto da Indústria Alemã de Feiras (AUMA) espera-se uma perda de cerca de três bilhões de euros para a economia apenas com os cancelamentos e adiamentos de feiras, afetando mais de 24.000 empregos.
Calcula-se que 470 milhões de euros serão perdidos pelo país em receitas tributárias. Os investimentos de expositores e visitantes com feiras,de maneira macroeconômica, somam mais de 28 bilhões de euros. Mais de 230.000 empregos são garantidos anualmente e as receitas tributárias baseadas em feiras somam, aproximadamente, 4,5 bilhões de euros todos
os anos.
A Sympla, plataforma de gestão de eventos e venda de ingressos no Brasil, fez um levantamento, em junho, do cenário mundial desse setor. Alguns países, que tiveram a evolução da pandemia muito antes dela chegar às terras brasileiras, já adotam protocolos para a retomada de algumas atividades sociais. O estudo mostra que na Alemanha, teatros foram reabertos com novos layouts atendendo a requisitos de distanciamento mínimo entre frequentadores. Na Inglaterra pretende-se treinar semanalmente os profissionais do setor de turismo para a reabertura de atrações. Outros países, dentro e fora do continente europeu, estão adequando seus protocolos preventivos para que possam seguir com as atividades em segurança.
No cenário brasileiro ainda há a expectativa de realização de eventos presenciais para este segundo semestre. Liliane Bortoluci, diretora de eventos da Informa Markets, conta que há uma série de protocolos já definidos para a execução de feiras no Brasil. A empresa global, promotora das feiras da ABIMAQ, Agrishow, FEIMEC, Expomafe e Plástico Brasil, já retomou as atividades operacionais em países como Coréia do Sul e China.
Estes dois países asiáticos têm em comum o estabelecimento de uma campanha agressiva para detecção e controle da doença. A China foi o epicentro de propagação do vírus com a cidade de Wuhan. No dia 23 de janeiro, o país anunciou o lockdown para conter a propagação da COVID-19.
As medidas efetivas aplicadas por lá, hoje constam no protocolo global para execução de eventos da Informa Markets, o Informa All Secure. O documento disponível no site da empresa é fundamentado nos 4 pilares também promovidos pelo governo sul-coreano para a proteção de funcionários e visitantes em eventos. Os pilares são: distanciamento físico, proteção e detecção de risco, medidas de higiene e segurança e comunicação.
A União Brasileira dos Promotores de Feiras (Ubrafe), entidade que representa o setor e contempla os eventos de mais de 50 segmentos macroeconômicos com mais de 2.000 feiras, é uma das entidades que estabelece as orientações que deverão ser seguidas para a reabertura da feiras presenciais.
Mudanças na dinâmica dos eventos já estão previstas para este novo cenário: uma das informações aguardadas nas orientações da Ubrafe é o tamanho mínimo das salas de reunião nos estandes dos expositores em eventos. “Os menores estandes não contarão com espaço sala de reunião”, comenta Liliane. Os coquetéis promovidos para os visitantes também serão repensados para contemplar as medidas de higiene e segurança sanitária. Estes são alguns dos desafios que terão de ser solucionados para as empresas atraírem bons negócios nas feiras.
Mesmo que os protocolos tomem por base as experiências asiáticas, o que se observa com as medidas já adotadas pelos governos estaduais e prefeituras, no Brasil, é a reabertura por fases do acesso a locais com concentração de pessoas. Medida semelhante foi adotada por países como Espanha, Inglaterra, Estados Unidos e Austrália.
Por aqui, alguns estados já liberaram a ida de pessoas a lugares como shopping centers. “Os protocolos de segurança adotados para a circulação nestes espaços são muito parecidos com os que serão empregados nas feiras”, compara a diretora de eventos da Informa.
As feiras costumam começar entre fevereiro e março e vão até dezembro. Com o adiamento de eventos em função da pandemia e a expectativa de retomada para este segundo semestre, os organizadores de pavilhões de eventos estudam maneiras para possibilitar a realização de um número bem maior de feiras do que as que já são tradicionalmente realizadas neste período do ano. Diminuição no número de dias para montagem e desmontagem e redução do período das exposições estão sendo negociadas com promotores e expositores.
Presença digital
“No setor de eventos, eu acho que a gente só perde para o de aviação com relação ao impacto nas atividades. Paramos 100% em função das orientações dos órgãos reguladores e não podemos voltar a executar as feiras até que haja a autorização para isso”, relata Liliane. Mas apesar da paralisação das feiras presenciais, o trabalho na empresa de promoção de eventos aumentou neste período.
A explicação está no aumento da utilização dos recursos digitais. “O mercado já vinha fazendo trabalhos online com visitantes e expositores. O que a pandemia trouxe foi a intensificação no uso destes canais”, esclarece Liliane.
Outro fator discutido com a executiva foram os recursos disponíveis no mercado de eventos para que essa presença virtual possa se confirmar. “Estão surgindo diferentes soluções e combinações de plataformas e recursos para promover a interação entre expositores e a promotora e, posteriormente, a interação com os visitantes. Daqui para frente, precisamos somar os dois modelos de trabalho, presencial e virtual, que se traduz em um modelo híbrido interessante”, comenta Bortoluci.
Uma das maneiras visualizadas para a utilização das ferramentas virtuais é a facilitação da pesquisa do visitante aos diferentes expositores e seus produtos por meio do site das feiras. Liliane espera que essa experiência se resuma em ganho de tempo e produtividade nos estandes, uma vez que, tendo expositores e compradores adquirindo a cultura de utilizar o meio virtual para divulgar e consumir as informações sobre os equipamentos, essa tarefa será realizada antes da visita.